1.4.08

Senhas de refeição serão vendidas também nas sedes de Agrupamento

O Diário de Aveiro passou a manhã no Gabinete de Atendimento da Câmara de Aveiro, onde pais e encarregados de educação entupiram os serviços da autarquia para adquirir as senhas para refeições escolares, que a partir de hoje devem ser entregues. Os pais mostraram-se revoltados com uma medida que afecta quase seis mil famílias

O descontentamento era geral e visível ontem, durante a manhã, no Gabinete de Atendimento da Câmara de Aveiro. Pais e Encarregados de Educação aguardavam vez para comprar as senhas de refeições escolares que, por decisão da autarquia, deixou de poder ter lugar nos próprios estabelecimentos de ensino.
Os serviços tiveram dificuldade em dar resposta e a população foi-se acumulando dentro e fora do gabinete. «Tem de tirar senha», alertavam a quem chegava de novo. «Eu já cá estou há mais de uma hora», garantia Júlia Pereira, agitando a senha número 75 no ar. Não vem de longe, mas sabe que há quem venha. «Temos de vir todos para aqui: os de longe, os de perto, os que trabalham… O senhor vereador é que devia vir aqui para a fila», atira.
Nestes e noutros comentários ressalta a revolta dos encarregados de educação. António Rodrigues vem comprar senhas para o filho, que estuda na EB1 da Vera Cruz. Tem a senha 91, tirada às 10 horas. Já leva 90 minutos de espera e uma multa no carro, que não ajuda ao bom humor. «Se os outros pais decidirem protestar, eu estou de acordo», assegura.
Ana Arabela Leite vem ao mesmo. Vai levar senhas para os sobrinhos – «porque a minha cunhada não pode vir cá» – e para a filha, para o mês todo. «Não posso vir cá todas as semanas», justifica. Por isso vai pagar os 28 a 30 euros, que um mês de refeições escolares custa. «O encargo é muito maior», aponta, «e nem sei se a minha filha vai almoçar os dias todos, pode ter de faltar, pode adoecer… não sei se as senhas podem ser utilizadas noutros dias».
Com a senha número 128, esperam-na cerca de duas horas em pé a aguardar a sua vez. «A hora prevista para o atendimento é às 13.31», lê na senha. «É ridículo termos de interromper o nosso dia de trabalho para vir comprar senhas», conclui esta mãe.

«Medida não faz sentido nenhum»

«É uma medida que não favorece as famílias, que têm de se deslocar de longe, e isso não faz sentido nenhum», defendeu Fernando Pereira. O presidente da APEVECA - Associação de Pais e Encarregados de Educação das Escolas da Vera Cruz de Aveiro, que também aguardava ontem pela sua vez para comprar senhas, apelou a que «os órgãos autárquicos, Assembleia Municipal e partidos políticos se unam para fazer ver ao senhor vereador e ao senhor presidente que esta é uma medida inadequada, parece uma medida de terceiro mundo».
«Como número um de uma associação, a mais antiga do distrito e a mais numerosa, em 32 anos de existência não tenho conhecimento de uma medida tão má», afirma Fernando Pereira, que se mostra «desiludido com a Câmara» e avança com uma nova dúvida: «Ainda hoje uma mãe nos levantou uma outra questão. Nós corremos o risco de um dia as nossas crianças ficarem sem alimentação, porque a Câmara recebe o dinheiro mas não sabemos se o vai pagar à empresa, e a empresa pode recusar fornecer a alimentação», conta o presidente da APEVECA. «Eu quero crer que, apesar das dificuldades, a Câmara é uma entidade de bem e que as nossas crianças não vão ser penalizadas, mas começo a acreditar que as dúvidas dos pais fazem sentido», diz.
Apesar de partilhar da revolta geral, Fernando Pereira assegura que a APEVECA não aprova medidas como o fecho de escolas, antes defende a via do diálogo.

Venda nos agrupamentos

Eram 12.20 horas quando uma funcionária afixou na porta a mais recente deliberação da autarquia. Um edital define que a venda de senhas passará a ter lugar também nas sedes dos sete agrupamentos de escolas do concelho, decisão que resulta das reuniões realizadas na última semana.
Os pais que aguardavam há horas pela sua vez não esconderam a sua indignação. «A reunião não foi hoje. Porque é que só agora é que informam?», questionavam. «As pessoas que estão aqui trabalham», atiram, perante uma funcionária impotente. Eles, que estão lá em cima, é que deviam vir aqui explicar a quem está aqui há horas o que é que se passa», defendia António Rodrigues, que continuava com a senha 91 na mão. «Esquecem-se que as pessoas que estão aqui é que elegeram quem está lá em cima…», diz, indignado.
Uns viram costas, outros garantem que vão pedir o livro de reclamações. Também Fernando Pereira garante que o fará, e que voltará a escrever nele de cada vez que tiver de voltar ao Gabinete de Atendimento da Câmara para comprar senhas. «E nos agrupamentos também», assegura, mostrando-se pouco convencido com a nova alteração. «É uma medida idêntica a esta. Os pais das crianças de S. Jacinto, por exemplo, que pertence a Aveiro, também vão ter de se deslocar à sede de Agrupamento… não faz sentido nenhum», conclui.

Junta de Santa Joana também vende senhas


A Junta de Freguesia de Santa Joana também vende as senhas de refeições para os alunos desta área geográfica. Vítor Martins, autarca local, esclarece que a decisão foi tomada na sequência das recentes reuniões com a autarquia e que a medida já entrou em funcionamento ontem. Para isso, a Junta de Freguesia recebeu da autarquia «o programa informático e os nomes das crianças e o seu escalão» e efectua a venda, entregando aos encarregados de educação a factura.

Soraia Amaro
http://www.diarioaveiro.pt/

Terça-feira, 1 de Abril de 2008

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