17.8.07

(3) Reserva Natural da Malcata

Concurso para construção do Centro Nacional de Reprodução em Cativeiro publicado ontem em DR

Malcata inconformada com escolha de Silves para o regresso do lince em Portugal
17.08.2007 - 20h05 Ana Machado


A silhueta do lince ibérico que aparece no site da Câmara Municipal de Penamacor não deixa dúvidas. A vila, que partilha com o Sabugal o domínio da Reserva Natural da Malcata, tem no lince um dos seus símbolos. Por isso não se conforma com as recentes notícias que dizem que o Governo escolheu Silves, no Algarve, para acolher o primeiro centro de recuperação da espécie em Portugal. A abertura de concurso para a construção daquele que será o Centro Nacional de Reprodução em Cativeiro do Lince Ibérico já foi publicada ontem em Diário da República.

A notícia não caiu bem em Penamacor. Domingos Torrão, presidente da Câmara Municipal de Penamacor, disse ontem à Lusa que a instalação de um centro de reprodução do lince ibérico (Lynx pardinus) no Algarve contraria o trabalho feito, nos últimos anos, na Serra da Malcata para receber aquela estrutura.

A instalação em Silves do Centro Nacional de Reprodução em Cativeiro, em colaboração com o Parque Doñana, no Sul de Espanha, foi anunciada em Julho pelo ministro do Ambiente, Nunes Correia, depois de, há dois anos, a equipa espanhola que lidera o programa de recuperação do lince ibérico ter falado na hipótese da Malcata. Apesar de também ter então apontado a degradação daquele que foi o santuário do lince em Portugal, na década de 70.

Lurdes Carvalho, vice-presidente do Instituto para a Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) disse ao PÚBLICO que não se trata de uma escolha entre a Malcata ou Silves, mas sim de uma questão de oportunidade que favoreceu, definitivamente, a região de Odelouca e Silves: “O principal argumento a favor de Silves prende-se com medidas de compensação da construção da barragem de Odelouca impostas a nível da União Europeia”, afirmou, lembrando que Odelouca também é uma zona histórica relacionada com a presença de lince ibérico.

“Mas a Malcata poderá sempre vir a receber espécimes nascidos em Odelouca ou vindos directamente de Espanha”, acrescenta, frisando o investimento que nos últimos anos foi feito na recuperação do habitat da Malcata, conforme refere o autarca de Penamacor.

Segundo um estudo da União Mundial para a Conservação (IUCN) divulgado em Maio, sobre os mamíferos em risco de extinção na Europa, só em Donãna e Sierra Morena (sul de Espanha) resistem populações de lince ibérico viáveis a longo prazo. Apesar de em 2003 uma equipa coordenada pela investigadora portuguesa Margarida Santos Reis, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, ter anunciado a descoberta de excrementos de lince nas imediações da barragem do Alqueva, facto comprovado com análises de ADN.

Existem pouco mais de uma centena de exemplares na Península Ibérica, reduto exclusivo desta espécie que é o felino mais ameaçado do mundo.

A reprodução em cativeiro vai acontecer ao abrigo de um programa ibérico de repovoamento, cujo protocolo será assinado a 1 de Setembro, adiantou Nunes Correia, quando, no âmbito do Conselho Informal de Ministros do Ambiente, a ministra espanhola do Ambiente, Cristina Narbona, visitar Lisboa.


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